JAMES MARTINS

nenhuma poesia

segunda-feira, março 25, 2013

agora-pós-lida

só para os interessados de verdade (que não constituem multidão) a íntegra do que eu disse na abertura do pós-lida essencial de hum/ano:

boa noite. não costumo anotar falas, sou mais de chegar e falar. mas, como esses dias andei lendo bastante as conferências anotadas do professor e obá de xangô vivaldo da costa lima (que deus o tenha!), decidi tomar nota do que dizer nesta ocasião bonita. alguma coisa pelo menos, visto que vivaldo anotava até mesmo os improvisos (um dia eu chego lá!). enfim, um ano dessa lida do pós-lida. o que swingnifica isso? ora, que somos persistentes e que, de um jeito ou de outro, o inferno não é aqui. quando resolvemos (alana silveira, alessandra benini, álvaro andrade, mariana risério e eu) encarnar este recital de poesia e alguma prosa que serviria de encontro de amigos e laboratório de idéias-evento, a primeira intenção era não deixar as veias da cidade entupirem totalmente. e continua sendo. pós-lida, um modo de dizer ‘no princípio era o verbo’. e sim, nós vimos como é difícil andar se tem uma cidade inteira parada na sua frente. mas cá estamos nós, um ano depois, conjugando com chico science que salvou a sua (ou o seu) recife: ‘um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar’. no entanto, é preciso que eu diga que nós do pós-lida não somos o que muita gente pensa (e que é como a imprensa despreparada e os pedagogos analfabetos nos tratam): uma espécie de serviço social. não. nós somos um recital de poesia e, assim sendo, somos uma festa e um templo (um templo sem deus, como o do vinicius?), e, assim sendo, somos muito mais importantes que essa bobagem toda que o desespero incute aos homens e mulheres. e não passamos disso. aliás, eu acho inclusive que, no mais das vezes, serviço social serve mais ao servidor que ao serviçal. sempre nos tratam, aos poetas e aos eventos ligados à poesia e/ou literatura, como se estivéssemos ao mesmo tempo pedindo e dando esmolas, para aludir aqui à bela canção do nosso galvão. mas é preciso estar atento e forte. o que o tempo pede já é uma outra coisa: um novo tempo, apesar dos perigos. agora, há que se colocar questões estéticas e cartas na mesa. de modo lúdico, mas também de modo lúcido. porque senão até a chuva cansa de chover no molhado e tudo o mais, (tudo. até mesmo vir brincar no pós-lida) cai no automatismo da lida. a questão é: o que significa exatamente fazer um poema nos dias de hoje? bom, se esta perguntinha besta soar besta aos ouvidos de todos, então realmente é melhor voltarmos pra casa e plantar batatas. quem tiver olhos, ouça: a manipulação do petróleo, ou a manipulação do ferro, ou do aço, do manganês, ou da bauxita, ou da madeira, ou do que quer que seja, não se compara em importância à manipulação da palavra pelo homem. e não estou falando em importância por ser festa ou por ser útil. não é culpa minha que o trabalho com a palavra-linguagem-pensamento seja divertido pacaralho e dê todo esse prazer. é como o sexo. deus deu sabor ao que de mais importante há para ninguém ter desculpas na hora h. e cá estamos: pós-lida hum/ano, demasiado hum/ano. daqui, ou de lugares assim saem decisões de ordem prática como fazer ou não fazer a ponte salvador-itaparica. até porque, sem passar pelo que se passa aqui (ou por lugares assim), não adianta nada fazer ou não fazer. e pós-lida (os outros lugares assim nem sempre) é um lugar de rigor ou de pretensão de. cito aquela reflexão de paulo valéry, que joão cabral de melo neto tomava como o homem mais inteligente de todos (do mundo e de todos os tempos. notem: certezas assim tão certas eu só conheço em carlos rennó, que sabe qual a canção mais bonita do brasil, o livro mais lindo da língua portuguesa e assim por diante e as diz com a tranquilidade de quem come um umeboshi). mas, antes, devo fazer uma outra-pequena-digressão-citação: da mesma forma que o igor stravinsky dizia de debussy – é o compositor mais importante para mim; eu digo e repito a respeito de joão cabral – o poeta mais importante para mim. agora vamos à reflexão do francês autor de ‘o cemitério marinho’ (título que bem poderia definir salvador em algumas ocasiões): abraspas: ‘isso me impressiona, há 40 anos – que as especulações feitas com rigor conduzam a mais estranhezas e perspectivas possíveis e inesperadas que a fantasia livre – que a obrigação de coordenar seja mais produtora de surpresa que o acaso’: fechaspas. taí um bom dado para esse pessoal da infalibilidade da expressão qualquer que seja, tática utilizada para encobrir a própria miséria criativa. o conceito de conceito também tem servido muito para isso. mas enfim, a adesão a uma forma, estilo ou escola (ou a não aderir a nada), não garantem o fracasso nem o sucesso de nada. taí o glauco mattoso sonetista que não me deixa mentir. sexo e poesia. e quem há de negar que esta lhe é superior. quero agora agradecer a todos os presentes, a todos os amigos que estão fazendo esse negócio todo conosco. não vou citar os nomes dos convidados porque já estão impressos por aí (embora eles mereçam sempre menção e remenção). mas é importante destacar essas pessoas que estão aqui sempre presentes e que fazem parte do motor (eu espero em breve convidar algumas delas também para figurar no cartaz -riam, por favor-): geraldo figueiredo, elton magalhães, bernardo linhares, patrícia conceição, guilherme piropo, davi boaventura, leila pimenta, gilson dultra, bruna rocha, robson poetadurap, daiane nascimento, pó, xuxu, caetano ignácio, rosângela (rosa, que até fez um poema pro pós-lida)... enfim, certamente esqueço alguns, mas se sintam incluídos todos. sabe como é memória né? da equipe, digamos, oficial, fazem parte amana dultra (nas fotos), matheus pirajá (nos vídeos), rafael almeida (nos cartazes), alana e alessandra já citadas. mari traíra. álvaro exilado. a equipe da baluart produtora (lívia cunha, fernanda félix e mariana gomach) e eu. sem esquecer também o sebo praia dos livros (onde estamos), na pessoa de cris que assumiu a batalha que já foi, por um bom tempo, de dani. bom, assim eu dou por abertas as porteiras citando aquele lemantra do poeta drummond de andrade (dessa vez sem nem parodiá-lo): ‘lutar com palavras é a luta mais vã / entanto lutamos, mal rompe a manhã’. e vai rolar a festa, que a poesia precisa voltar a NÃO ser o que era antes.

1 Comentários:

Às 7:47 PM , Blogger Carolina Costa disse...

eu gostei. e achei prudente e bonito. apesar de nunca concordar com o james.

 

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